terça-feira, 26 de julho de 2011

Vovó Didi

Que dor no peito!
Saudade pura.
Vovó querida,
Minha cozinheira gorducha.
Amor eterno, vovó fofura.
Cometa que passou
Em minha vida obscura.
Perda sofrida.
Esquecer-te jamais.
Inúmeras lembranças deliciosas.
Forte presença, inesquecível...
Sincera vovó,
Seus olhos refletiam o brilho da sua alma.
Quando dizia:
"- Que menina chata."
Era como se dissesse:
" - Eu te amo, minha netinha."
Me protegia de forma feroz,
Como o seu apetite voraz.
Ah, vovó querida!
Nunca me esquecerei do seu último olhar.
Você morreu me amando.
Ainda sinto o gosto do seu "bolo de formiga".
Um dia irei acariciar o seu cabelo novamente;
Vamos dançar;
E brincar com balão de gás.
Entrarei no seu quarto, de madrugada, sorrateiramente.
Dormirei contigo como se tivesse quatro anos de idade.

Paula Fernanda

Mais do que uma poesia popular

Soneto de fidelidade

"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

Vinícius de Morais

domingo, 24 de julho de 2011

Insensível ou sensível demais?

                Quando assisti a 1ª Temporada de House, MD fiquei louca, fascinada. Senti uma paixão irresistível pela série. Depois disso, passei a engolir os episódios seguintes, sem digerir com calma. Talvez seja uma das minhas personagens favoritas. Uma mistura excêntrica. Um homem sarcástico, genial, mal humorado, cruel, insuportavelmente engraçado e charmoso. Pensei: “Como isso é possível?” Essa personagem é revolucionária.
House, MD mistura comédia, suspense e drama magistralmente. Não é à toa que a série já recebeu vários prêmios, entre eles dois Globos de Ouro.
Gregory House, interpretado pelo ator Hugh Laurie, desde 2004, é um médico infectologista e nefrologista, que se destaca pela capacidade de diagnosticar casos complexos, pelo seu comportamento antissocial, rabugento e cético.
Porém, o que me atraiu tanto em Gregory House? Vamos combinar que a construção da personagem foi fabulosa. Hugh Laurie interpreta de forma visceral. O telespectador fica hipnotizado.
Entretanto, confesso que fiquei hipnotizada com a série devido ao excesso de sensibilidade do protagonista. Foi isso mesmo o que eu escrevi. Dr. House é sensível demais, apesar de vestir a capa de um homem cruel.
House tem atitudes autodestrutivas o tempo todo, porque o seu medo de se envolver em relações afetivas é enorme. Medo de amar e não ser amado. Medo de se magoar, de sair ferido de uma relação. Quando age de forma diferente, o telespectador tem a impressão de que o personagem foi descaracterizado. Os fãs da série se sentem enganados. “Não é o House!”
Ele é egocêntrico? Sim, demais. O mundo gira em torno dele, porque o protagonista da série tem a capacidade de hipnotizar os outros personagens da trama, além do telespectador. A sua genialidade é tamanha que é difícil dizer não para o Dr. House.
Ele tem tanto medo da rejeição que em um dos episódios a personagem vai parar em um hospício. Em outra situação, tudo indica que Gregory House terá grandes problemas com a polícia. Isso tudo porque as suas atitudes são extremas. Alguns telespectadores devem imaginar uma personagem corajosa. Eu enxergo uma personagem medrosa que esconde os seus sentimentos. E, quando estes afloram, é de forma explosiva.
O último episódio da 7ª Temporada é instigante. A melhor demonstração do que foi dito acima. A personagem se sente aliviada ao extravasar um sentimento de forma criminosa.
Logo, House não é insensível. É simplesmente um homem que tem medo de amar. Talvez, por isso House, MD seja uma série que me mobiliza tanto.

Paula Fernanda                                                                                                                 

sábado, 16 de julho de 2011

Insensível amor

Por que você me rejeita?
Insensível amor
Quero colo, calor!
Estranho amor
Cadê você?
Por que tanto pudor?
Estou aqui!
Insensível amor
Nunca sou boa o suficiente para você
Pouco amor
Ou amor demais?
Pode me dar a sua mão
Que frio, temor!
Medo da entrega?
Quero um abraço. Vamos conversar?
Os ponteiros do relógio nunca param!
Quando você vai me aceitar do jeito que eu sou?


Paula Fernanda                                                                                                                            

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pássaros

Cresci demais

Quero voar
Estou pronta
O meu ninho
Era muito aconchegante
Gravetos, folhas
Ramos verdes, alimentos
E proteção
Mas, agora, preciso voar
O ninho que os meus pais construíram
Está pequeno demais para mim

Ser livre. Liberdade!
Ah, planar no céu azul...
Fazer manobras radicais
Admirar a natureza exuberante
Do meu país tropical
E migrar com os meus companheiros
Para além do infinito.

Paula Fernanda

terça-feira, 12 de julho de 2011

Adoooro!!!

''Falação

Um jogo de dados não será
por acaso ou ocaso um jogo de dedos
nas teclas da máquina-piano?;
dedos nas teclas brancas e pretas
em música de silêncio e sussurro:
o piano in-forma
a poesia de-forma
e a forma é pró-forma.

Sim,
há poeta real e poeta ideal,
há poeta maior e poeta menor;
maior e menor que seu próprio
tamanho talento ou umbigo
- daqueles tempos d' antanho!
Democratas, santos e pederastas,
comunistas, loucos e lésbicas
- distraídos desarmados desastrados.
E Pedr'o Álvares que descobriu o Brasil
(e o índio, mui surpreso com a notícia, via UPI.)
Da civilização da banana à Banana Republic
Pictures e o leão da Metro Golden Meyer.
E muito macaco, chipanzé e gorila,
aves do paraíso e aves de rapina,
e herói corrupto e político aldrabão
- tudo saindo pelo
                            ladrão.
E o perigo vermelho ou verde amarelado,
o perigo maior de se continuar sendo.
Os índios descobriram Pedr'Álvares em 1500.
Há sifilíticos políticos e analíticos,
epopeias centopeias e melopeias.
Em se plantando tudo dá.
Coronéis e bacharéis,
Bananal e Copacabana,
Brasília e Santo Antônio
da Patrulha.
Há histórias e estórias e causos
e contos de reis e de réis.
O cabloco acende o cigarro de palha no boi-tatá!
Iemanjá pegou pneumonia
e Jesus Cristo anemia ou alergia.
Em se plantando, tudo dá,
São Paulo dá café,
Minas dá leite
e Oswald de Andrade dá samba
(O poeta, grilofalante.)"



Flávio Moreira da Costa

Fonte: Jornal "O Globo", Caderno "Prosa & Verso", 09/07/11

sábado, 2 de julho de 2011

FLIP 2011

Oswald de Andrade (1890-1954) será homenageado na 9ª edição da FLIP (Festa Internacional Literária de Paraty - 2011), que terá início no dia 06/07/11 e encerramento no dia 10/07/11.
O antropógafo do Modernismo cursou Direito e ingressou na carreira jornalística. As obras de Oswald de Andrade refletiam o seu modo de ser: crítico, irônico e sarcástico. Ele satirizava os meios acadêmicos e a burguesia, classe de que se originara.
O autor em questão inovou a Literatura Brasileira. Acredito que a sua mais importante proposta foi a ruptura com os padrões da língua literária culta e a busca de uma “língua brasileira”. Um exemplo dessa proposta foi o poema “Pronominais”:
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
Oswald de Andrade defendia a valorização das nossas origens. O romance foi o gênero em prosa que mais despertou o interesse do poeta em tela. Entretanto, foi no âmbito do teatro que Oswald de Andrade estreou na Literatura, em 1916.